2 de Julho, a data cívica mais linda do Brasil

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Que maravilha seria ter uma data cívica de festa, onde todos pudéssemos comemorar como nossa uma conquista do país, não é verdade?

Um dia em que fôssemos pra rua, alegres, encontrar os amigos para reconstituir um dia em que lutamos e vencemos; de rever ícones da história, lembrar suas aventuras; reverenciar estes personagens como os heróis que foram! 

Carmo – Santo Antonio em festa

Aqui na Bahia, esse dia existe, e é o 2 de Julho. Dia da Independência do Brasil na Bahia. Infelizmente não está no calendário cívico nacional, nem nos livros de história com o devido destaque. É um feriado estadual, que os baianos celebram mais, muito mais, que o 7 de Setembro.  É, sim, a data cívica  mais bonita do Brasil.

Santo Antonio Alem do Carmo

Mas eu demorei pra entender o 2 de Julho. É quase uma heresia resumir essa história em um parágrafo, mas o que aconteceu foi o seguinte: depois do grito do Ipiranga, alguém imagina que  os portugueses largariam sua maior colônia? “Ah, ok, vcs venceram. Vamos embora então”? Aqui na Bahia, onde muitos se concentraram depois dessa data, houve guerra e fome. Salvador foi tomada pelos portugueses. Os brasileiros moradores da cidade se refugiaram no Recôncavo Baiano, interior do estado. O povo precisou se organizar em um exército, que contou, inclusive, com apoio de D. Petro I. E, só em 02 de Julho de 1823, os portugueses foram de fato expulsos do país. 

Além dos heróis designados por D. Pedro, como João das Botas, Lord Cochrane (enviado pela coroa britânica, desinteressadamente…) e General Labatut (mercenário francês), a luta foi travada principalmente por pessoas muito mais próximas do povo comum. Donos de terras, comerciantes, homens, mulheres, pretos, brancos, índios – todos se uniram para defender suas terras e mandar os portugueses pra casa. Hoje, no desfile do 02 de Julho, todos são representados pelo caboclo e pela cabocla, cujas estátuas são carinhosamente adoradas pelo povo baiano ao longo do trajeto. 

O Caboclo e a Cabocla na Praça Municipal – e muita tietagem 🙂

Pra quem admira a história de Joana D’Arc, saiba que tivemos a nossa, Maria Quitéria. Ela pegou a farda do cunhado, foi lutar, disfarçada de homem. Lutou bem – e foi descoberta. O que foi feito então? Mandaram pra casa, queimaram na fogueira? Não. Foi registrada como cadete para passar a ganhar seu soldo, arranjaram uma farda pra ela, com saiote e tudo, e foi condecorada ao final do conflito.

Mártires? Temos. Joana Angelica, abadessa do Convento da Lapa no centro de Salvador, foi morta por soldados portugueses a golpes de baioneta ao se colocar diante dos mesmos para proteger o convento. Armadilhas? Temos também. A preta Maria Filipa reuniu um grupo de marisqueiras, seduziram soldados portugueses e, quando eles estavam “vulneráveis”, deram uma surra de cansanção em todos, desfalcando a tropa.  Golpes de sorte? Nesta história também se acha. Na Batalha de Pirajá dizem que o exército brasileiro estava já quase entregando os pontos e o general ordenou o toque de retirada. Em vez disso, o corneteiro Lopes entrou pra história tocando “avançar cavalaria” e a batalha foi vencida. Batalhas navais? A frota comandada por João das Botas bloqueava a chegada de suprimentos pelo mar para abastecer a Salvador tomada pelos portugueses. E, depois que a luta acabou, a força naval portuguesa foi perseguida pela frota brasileira até a foz do Tejo, em Portugal! Imagine uma cena dessas no meio do Atlântico… Desta luta, inclusive, surgiu o patrono da marinha brasileira, Almirante Tamandaré – mas na época ele era só um jovem voluntário com 16 anos. 

Daria ou não daria um daqueles filmes blockbusters, tantos momentos palpitantes como estes? 

A Cabocla, chegando na Praça Municipal

Já que o mundo aproveita pra derrubar tantas estátuas nestes dias, devíamos aproveitar e erguer mais algumas para estes nomes na nossa história ❤ Então… temos aqui nossa tomada da Bastilha, nosso Fourth of July, minha gente.  Não é a toa que o Hino do Estado da Bahia é em homenagem a esta data.  Bom… Este ano o feriado do 2 de julho foi antecipado devido à Pandemia. Não teremos desfiles, festa, música. Teremos um ato simbólico que reunirá prefeito e governador – que são de correntes políticas distintas, mas estão juntos no combate que temos na atualidade.

Desde o primeiro desfile que fui, não perdi mais nenhum. E tem que chegar cedo pra ver a cabocla e o caboclo viu? Desfilam as escolas, políticos de todas as correntes, movimentos sociais dos mais diversos. As casas se enfeitam pra ver os heróis da independência passar. É uma festa democrática maravilhosa. O desfile começa na Lapinha, passa pelo Centro Histórico e termina na Praça do Campo Grande, com ato solene. As estátuas ficam alguns dias expostas na Praça para visitação. Depois, retornam para o pavilhão na Lapinha, onde ficam guardadas até o 2 de Julho do ano seguinte.

Carnaval? Não… é 02 de Julho!

Ano passado eu e a Carol, minha irmã, fomos ver a volta dos Caboclos no Centro Histórico. Diferente da ida, que é desfile, a volta é em galope, e à noite. As estátuas são carregadas e o povo corre o circuito todo no sentido contrário, acompanhado de uma bandinha de sopro e arrastando quem estiver afim pelas ruas. Tomávamos um cravinho no Terreiro de Jesus quando começamos a ouvir a barulheira, e fomos procurar um lugar mais alto pra vê-la, nas escadas em frente à Catedral Basílica. Por ali, o cortejo se demorou um pouquinho, e acompanhamos o povo descendo a rua em direção à Igreja do Rosário dos Pretos, antes de voltarmos realizadas para casa. 

Fechamos o circuito do 2 de Julho completo em 2019, como boas baianas que somos 😉

Esse ano, celebramos aqui, lembrando dos feitos e de nossa admiração pela história. Ano que vem festejaremos em dobro.

Salve o 02 de Julho!

Este texto apareceu primeiro no blog Caderninho da Adri.

A Cabocla em sua volta pra Lapinha

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